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Quase Proibida de Casar


Nascida e criada no Irã, sempre fui aquela menina sonhadora que olhava o mapa múndi da escola e ficava imaginando como seria a vida fora da capital, onde eu morava. Meus pais não eram do tipo que me incentivavam a sair da minha zona de conforto, então eu sabia que se quisesse realizar meu sonho, teria que fazer isso sozinha.

Os anos foram se passando e aos poucos eu fui deixando de sonhar, me acostumei com a minha vida, até o dia que recebi um pedido de amizade desconhecido no Facebook. Conversar com pessoas desconhecidas pela internet é extremamente perigoso, então resolvi ignorar a mensagem dele. Vi que era Iraniano mas estava no Reino Unido. Não respondi, e ele me mandou mensagem novamente. Resolvi dar uma chance e conversamos. Depois deste dia, não paramos de nos falar.

Após dois anos de constante troca de mensagens e telefonemas, resolvemos nos encontrar na Turquia! Mas, como eu contaria para os meus pais que estava comprando uma passagem internacional para encontrar um homem que só conhecia virtualmente? Bom, tive que respirar fundo e falar. Minha mãe já sabia da existência dele, mas acho que ela nunca realmente achou que iriamos seguir adiante com isso. A minha noticia foi um choque e eles tentaram me fazer desistir de qualquer jeito. Sem sucesso.

Entrei no avião e foram as três horas de voo mais longas da minha vida, pareciam dias. E esse tempo ocioso me fazia perguntar se eu estava ou não fazendo uma loucura. "E se ele não fosse como eu imagino? E se eu me arrepender? E se eu estiver tomando a pior decisão da minha vida?" me questionava. Mas a essa altura, literalmente, não existia volta. Pousamos, eu não sabia se queria ser a primeira ou a última a sair da nave, peguei minha mala e quando as portas automáticas se abriram, lá estava ele. Tinha a aparência mais nova do que eu imaginava e estava gentilmente segurando uma rosa. Me aproximei e disse: “É você o homem com quem eu tenho me comunicado nos últimos dois anos?”. Nos beijamos e aquele foi o beijo mais esperado da minha vida.

Foram os dias mais intensos e cheios de amor que já tive e depois disso voltei para o Irã. Não sabíamos como seria a partir dali, na verdade, a única certeza que tínhamos era do quanto gostávamos um do outro e que isso iria dar certo. Após um mês de volta a minha casa, ele me ligou e no meio da nossa conversa corriqueira, ele me pediu em casamento! Sim, entrei em choque e pedi para que ele provasse que ele realmente queria isso. Dias depois recebi vários presentes e entre eles uma aliança, tudo pelo correio, já que ele não podia entrar no país. Ele disse que não queria mais perder nosso tempo e que estava seguro do que ele queria. Aceitei.

Ele começou meus processos migratórios e tivemos que contratar um advogado na área, pois esses casos migratórios não são nada fáceis. E os problemas só estavam começando, pois Reino Unido e Irã não mantem uma boa relação, logo meu país não possui a embaixada para que eu desse ínicio ao processo, então eu teria que ir novamente para a Turquia e fazer tudo lá. Tudo parecia estar tão longe de dar certo…

Chegando na Turquia, tínhamos que nos casar de acordo com as regras deles e isso incluía uma série de exames, como HIV, hepatite e de compatibilidade sanguínea. Bom, os resultados dos exames de sangue mostraram que tínhamos o mesmo tipo sanguíneo e fomos proibidos de nos casar! Quis desistir de tudo e voltar para o meu país, mas ele me disse que jamais desistiria de nós, mesmo se tivéssemos que nos mudar para outro país.

Fomos para a embaixada Iraniana com um pedido de socorro, questionando o que eles poderiam fazer para que nós conseguíssemos nos casar. Nosso advogado levou os testes para um laboratório especializado e eles disseram que os resultados estavam equivocados! Voltamos para o hotel e rapidamente recebemos uma ligação do advogado dizendo que as 3:00pm do dia seguinte estaríamos nos casando no consulado! Ele me perguntou quem da minha familia estaria presente e comecei a chorar. Percebi que dali em diante teria que me acostumar com a ausência deles…

Bom, nossa lua de mel foi na Islândia e não poderia ter sido mais perfeita. Depois de casados pelo governo da Turquia, iniciamos o processo para o visto Europeu. Estamos casados há seis anos, desses seis, dois foram à distancia por conta dos processos migratórios. O importante é que não desistimos do amor e vencemos tudo juntos.

Lembro-me como se fosse hoje de cada peça de roupa que escolhia colocar na mala antes de deixar minha vida no Irã e como ver o meu guarda-roupas esvaziar abria um vazio ainda maior no meu coração. Nunca vou esquecer minha mãe sentada ao lado da minha cama uma noite antes de eu viajar, ela segurou minha mão a noite inteira, como se estivesse aproveitando cada segundo que ainda me tinha ocupando aquele quarto que não seria mais meu. Viver tão longe da minha família é uma batalha diária, mas o pássaro não pode viver no ninho pelo resto da vida.

Da desabafadora, Farah.

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