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Sobre Aniversários...


Você gosta de montar quebra cabeças? Eu nunca gostei muito. Sempre fico na ansiedade de ver ele pronto, e quanto mais peças, mais demora! Mas, uma coisa que aprendi com eles, é que o segredo é ir montando grupos de peças, e no final juntar eles. Por exemplo, podemos começar com o céu, depois juntamos as peças rosas que são um dinossauro… e assim vai.

Cada lugar que eu passei na vida, eu montei pequenos grupos do meu quebra-cabeças.

Eu sempre amei o dia do meu aniversário. Na minha casa, era o dia de acordar com parabéns e ter um bolinho na mesa da cozinha. Não era sempre que eu tinha a “festa do ano”, mas pelo menos os meus amigos a gente recebia em casa para comemorar. Tirando a minha festa de sete anos, que foi tudo que eu sempre sonhei. Eu não tive uma festa de princesa nos meus quinze anos, e eu acho que foi porque até meus quinze, meus pais ainda estavam pagando pela minha festa dos sete… brincadeira. Só sei que essa festa bombou tanto, que lembro das minhas amigas do condomínio, ficarem "de mal" comigo porque eu parecia estar dando mais atenção para minhas amigas da igreja. kkk

Logo eu que nem gosto de ser o centro da atenções. Amei. kkk Brincadeira, mas é verdade.

Até uma certa idade, eu e meu irmão mais velho sempre tínhamos a festa de aniversário juntos. Sempre com nossas roupinhas combinando, confeccionadas especialmente para nós dois, pela nossa tia Maria. Peças da grife dela, únicas. Era tão gostoso aquilo.

Mas nos meus sete anos, foi tudo diferente. Eu tive tudo que sempre sonhei em uma festa. Foi da Cinderela, e eu era ela. Minha tia cacheou o meu cabelo, porque era meu sonho, colocou um quilo de laquê e mesmo assim, na hora da minha grande entrada, os cachos eram praticamente ondas. Tive principe, tive meu pai trocando meu sapatinho de cristal e tive muitos presentes. Eu amo presentes. Sério, eu amo tipo, muito.

Alguns presentes de aniversários me marcaram muito. O primeiro que me vem a cabeça foi a boneca “meu bebê”, que era febre nos anos 90 e meu sonho de consumo. Lembro como se fosse ontem desse dia… Estávamos no quarto dos meus pais vendo TV, eu e o Victor, quando minha mãe me gritou da cozinha pedindo que descesse lá. Fiquei brava por ela estar interrompendo meu desenho da tv crugi, e já desci irritadíssima achando que ia ter que lavar louça. Bom, o resto você já sabe. Foi o melhor presente ever!

Minha outra memória é dos meus treze anos, quando ganhei meus sonhados patins cor de rosa. O condomínio que morávamos nem tinha asfalto ainda, mas andar dando voltas pela nossa varanda cimentada, era demais! Enfim, tiveram outros, mas depois que fui crescendo e tendo consciência da condição financeira dos meus pais, e também por passar todos os meus aniversários longe, os presentes foram sendo interrompidos…

Mas, meus pais nunca deixavam passar em branco. Um dia recebi um buquê do meu pai na escola, outra vez ele parou a rodoviária de Brasilia para me homenagear e dividir bolo com os “convidados” da viagem… Presentes que dinheiro nenhum compra.

Outro fato sobre mim, é que eu não gosto de bolos de aniversário. Aquele glacê que cobria os bolos, antes do naked cake virar moda, me davam arrepios. Encontrar pedaços de abacaxi no recheio então? Congelava o cérebro. No meu aniversario de sete anos eu fui enfática ao falar para a minha mãe que meu bolo deveria ser de cenoura com chocolate. Ela foi clara para a empresa de buffet também, que além de atrasados, entregaram o bolo errado: pequeno, com muito glacê rosa e feio. Preciso nem falar que no outro dia minha mãe estava na porta da empresa deixando um super recado de recomendação. Rs

Não sei porque eu nunca gostei de bolos de aniversário. Ver aquela criançada assoprar aquelas velas inapagáveis, que reuniam todos os amiguinhos da festa como uma patrulha de incêndio, cuspindo água salgada pelo bolo doce, era um dos motivos para a minha insistência em me satisfazer com os salgados e brigadeiros.

Hoje eu completo 27 anos. É tão estranho, porque eu não me lembro das minha 27 comemorações de aniversário. Passa tão rápido! Hoje, com a distância, as ligações telefônicas e posts nas redes sociais são o mais próximo que tenho de comemorações com a minha família. Graças a Deus, sempre tenho amigos especiais que fazem desse dia inesquecível e isso não tem dinheiro que pague. Acho que pela primeira vez em 27 anos eu estou em um lugar com zero amigos para compartilhar comigo esse dia. Uma colega que conheci aqui até me chamou para sair hoje, mas estou tão home sick, que não sei se consigo ir.

Tenho um namorado incrível que fez o que pode para me fazer feliz esse fim de semana, e não entendeu porque hoje eu não estava bem. Quando a gente não está bem, não tem nada que melhore isso, a pessoa que nos ama se sente insuficiente, e isso é péssimo. Mas eu não consigo controlar. Queria estar com os outros amados que eu tenho na minha vida. Parece que está sempre faltando um pedacinho. Quando eu estava no Brasil, faltava o pedacinho do Canadá, quando estou aqui, falta o pedacinho que está nos Estados Unidos, na Bolivia, na Irlanda e no Brasil.

Esse quebra-cabeça do meu coração está ficando cada vez mais difícil de se completar. Acho que é daqueles de mil peças que está sempre faltando uma. A agenda das pessoas que amamos nunca vai completar o quebra-cabeças no mesmo dia, sempre vai ter uma peça perdida em baixo do sofá ou levada pro quintal pelo cachorro. Demora achar e fechar o quebra-cabeça com todas as peças que amamos.

Mas, em tudo dai graças. Saber que mesmo longe, todos estão bem, crescendo na vida, sendo felizes, e simplesmente vivendo, faz a gente sorrir toda vez que se fala pelo FaceTime. Depois de tantos aniversários à distância, a gente pensa que já está “acostumado”, mas existem ocasiões que a experiência não conta como profissionalismo no currículo emocional. Faz parte da vida. Ela continua seguindo. Amanhã é segunda-feira e vão faltar mais 364 dias para meu próximo aniversário e está tudo bem. Vai ficar tudo bem de novo.

Logo eu que nunca gostei de quebra-cabeças, não me arrependo de ter montado um com peças de tantos lugares e pessoas.

Aos meus amigos e familiares, um dia a gente juntas essas peças.


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