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O Amor Não Vale Nada!

Era uma sexta-feira como todas as outras, cheguei em casa antes dela, ajeitei o que estava fora do lugar e deixei tudo pronto para que ela chegasse e não precisasse se preocupar com nada. Como de costume, jantamos e ficamos juntos no sofá lendo um livro.

No sábado cumprimos com nossos compromissos rotineiros, a noite fomos andar de patins e tudo estava perfeito. Ela estava sendo uma atriz com direito ao Oscar, eu diria.

Somente quando chegamos em casa eu pude perceber. Sabe quando o ambiente fica frio mesmo sem ter mudado a temperatura?

Mas ela permaneceu em silêncio.

Domingo de manhã acordei e ela disse estar com dor de cabeça. Decidi cancelar meus compromissos para ficar com ela, mas fui repreendido com um sermão de como eu deveria cumprir com minhas responsabilidades. Só quando voltei que entendi porque ela não queria minha companhia naquela manhã.

Entrei em casa e mais uma vez senti o frio. Entrei de cômodo em cômodo até encontrar que a saída de ar era ela, que friamente olhou para mim e cuspiu a seguinte frase:

“Estou indo embora, eu não o amo mais. Já levei minhas coisas para o lugar onde vou ficar. Quero viver minha vida”

Tentei entender o que estava errado e ela dizia que o casamento entrou na rotina, que problemas surgiram, que se arrependeu de ter casado cedo, que não sabia quem ela era e que não aguentava mais me ver mendigando carinho. Fiquei sem entender. Na minha cabeça não existiam problemas que não pudéssemos superar, estações gélidas eternas ou furacões insuportáveis e ela sabia disso! Ninguém nos disse que a vida seria perfeita e éramos maduros o suficiente para saber disso. Para isso tínhamos um ao outro!

Mas ela não estava me falando aquilo para discutirmos isso, a decisão já estava tomada por nós dois.

Foi aí que me veio o choro, o terapeuta, as noites sem dormir, a angústia, os remédios, a descrença, os amigos e o luto. Eu estava tomado pela raiva de ter que rasgar as memórias dos últimos anos e viver como se houvesse um vazio na minha história. Eu estava revoltado porque me sentia traído, por não ter havido transparência – eu estava vivendo um teatro sem fazer ideia. Era como um maldito Show de Truman.

O sofrimento que passei nos dias seguintes pareciam só piorar. Acostumar com a ausência dela parecia uma impossibilidade. Eu só pedia a Deus que não me esperasse abrir a porta para jantar comigo. Que Ele agisse como um pai que se vê do lado de fora da casa, enquanto seu filho chora aos gritos, pedindo por ajuda em meios às labaredas do seu lar incendiado, ruindo aos escombros.

Eu demorei pra aceitar que não era minha culpa. Afinal, não havia sido minha escolha destruir nossa aliança “eterna” (a inscrição em minha aliança trazia escrito, ironicamente, nossos nomes e um ad eternum ao lado).

Eu demorei para aceitar que eu havia sido um marido dedicado, apesar de meus defeitos. Demorei para aceitar que ela simplesmente havia mudado, que havia se iludido com o mundo, com os desejos de um coração enganoso e seus falsos deuses. Eu demorei para aceitar que ela havia sido infectada pelo mesmo narcisismo que assedia a cada um, todos os dias, fazendo-a acreditar que sua ‘felicidade’ estava em uma vida cheia de sei-lá-o-quê, longe de Deus e de todos que a amavam. Aquela mulher que havia conversado comigo naquele domingo era uma impostora.

Mas em meio a dor, também havia o amor. Um amor que eu talvez não haveria conhecido sem passar por aquele vale infernal. O amor de tantos que se levantaram por todos os lados para não me deixar cair. Eu não estava abandonado, embora me sentisse assim. Eu era amado. E havia muito mais carinho disponível para mim do que aquele mendigado naquele domingo cinza.

Eu havia carregado a sina de um lunático, encarando a morte enquanto esperava pela vida. Mas bastava. A noite precisava ser atravessada e não duraria eternamente. E agora o que me restava era uma existência reforjada, cheia de marcas, e talvez uma das coisas mais importante que já aprendi em minha vida:

O amor não vale nada.

Nós fizemos um ótimo trabalho emprestando novos significados ao amor. De alguma forma misturamos tanto o amor com a beleza, o charme e a sensualidade que roubamos dele sua sublimidade. Nós dizemos “eu amo Sushi”, “eu amo sexo” e “eu amo minha esposa” sem praticamente nenhuma diferença no sentido dessas afirmações. A realidade é que quando dizemos “eu amo isso” ou “eu amo você”, o que estamos dizendo na verdade é algo parecido com “eu gosto disso porque me faz feliz”.

Nosso “amor” pelas coisas e pessoas é avaliado pela capacidade delas de nos agradarem, darem prazer ou nos beneficiarem. O sacrifício pelo outro se tornou o crime hediondo contra a pseudoliberdade individual que destrói a imagem de Deus no homem.

O problema é que TODO relacionamento humano encara um momento onde o outro se torna inútil pra te trazer prazer, euforia e conforto. O que acontece nessas horas? Bem, adivinhe: o amor acaba – é só ir embora. Enquanto minha geração usar essa palavra com esse sentido, eu posso dizer com certeza:

O amor não vale nada.

Aquilo que deveria ser chamado de amor, é algo mais profundo, mais maduro. É algo como um compromisso abalável, mas indestrutível e regenerável, de se conhecer, gostar e cuidar. Parafraseando o cartunista americano Theodor Seuss, nós sabemos que amamos quando não queremos mais dormir, pois a realidade do outro é mais desejável do que os nossos sonhos.

E é por isso que o maior objetivo de um relacionamento, para aqueles que amam a Jesus, não deveria ser simplesmente uma busca infindável por uma felicidade inalcançável – mas sim a alegria que brota do se tornar mais parecido com Ele, amando como Ele amou.

E é isso pelo que eu ainda anseio.

Do desabafador, Carlos.

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